quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Fico de pé, nem que fique, de pé, sozinha,
Hoje dei por mim à porta da primeira casa onde vivi em Lisboa. Tinha 17
anos, estava sozinha, as ruas eram-me estranhas e a cidade parecia
disposta a obrigar-me a desistir. Chegava a casa e ela estava vazia.
Chorei noites a fio, sem ninguém com quem pudesse partilhar nem as
novidades nem os medos, ninguém a dizer-me que desistir não era uma
opção. Não conhecia ninguém e naquela altura não fazia amigos
facilmente. Vim sozinha com sonhos no bolso e poucos meios de os
concretizar. E trouxe facturas, que ainda pago em prestações. 12 anos
depois, concretizei alguns sonhos e as prestações das facturas ainda não
acabaram. Tive um momento estranho à porta da minha primeira casa em
Lisboa, que foi a mais solitária das muitas que já tive. Desistir não
foi uma opção a que me desse. Aos 29 anos, com todas as voltas que a
vida deu entretanto, há uma linha comum entre a miudeca de 17 anos e a
de 29: defendo de pé e com dignidade aquilo em que acredito, mesmo que
muitas vezes dê por mim, de pé, sozinha. E apenas para isto o passado me
serve, para quando a vida me empurra para o chão olhar para trás e
saber que me sei levantar. Fico de pé.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
domingo, 16 de setembro de 2012
Escreveu um dia sem saber que a marcava a ferro quente a palavra fado # 7 pela Ana Marta Silva
"E
desejas que passe o aperto no peito. Desejas de tal forma que tudo dê
certo que sorris com a confiança de quem tem o mundo na mão. Falar de
gostar é pouco. Aliás falar de gostar não é quase nada no que a ti
respeita. É que gostar é pequeno para falar de ti, que és tão grande. É
que gostar não serve para falar de mãos dadas, da tua respiração no meu
pescoço e do facto de o teu abraço ser o lugar mais seguro do mundo.
Gostar não serve para falar de cumplicidade, nem dos segredos que se
dividem no escuro do quarto. Gostar não chega perto de sentir o coração
a acelerar quando a porta do autocarro se abre e a cabeça gira
imediatamente para te encontrar. Gostar não conhece a tranquilidade que
me dás nem sabe a força que tem o teu sorriso. Gostar não imagina sequer
como é abraçar-te durante a noite e pedir, baixinho, que os pesadelos
se vão embora. Gostar não conhece a sensação de chorar ao telefone de
tanto que desejo que a tua dor seja mais pequena. Gostar não entende o
que é desenhar com os dedos na tua barriga projetos de dias felizes.
Gostar não se dá com puxões de orelhas e com risos. Gostar não sente de
perto o quão feliz me faz ouvir "esta é a minha namorada." Gostar nunca
foi surpreendido à porta de casa com um ramo de flores. Gostar não sabe o
que é fechar os olhos e sorrir. Gostar, no fundo, não sabe de nada. É
que gostar parece que está só ali na palavra. Gostar é centrado. Gostar é
contido. Gostar é pouco e é pequeno e sabes uma coisa? O que eu sinto é
tão grande que parece que não me cabe no peito."
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Doses homeopáticas? Não, obrigada.
"Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir
em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela
seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja. Não me
apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas
água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha
vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem
suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que
invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre
muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque
posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas
embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo
achando o que não devia.Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais,
o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é
mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me
fazer crêr que é para sempre quando eu digo convicto que 'nada é para
sempre'."
Gabriel Garcia Marquez
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