terça-feira, 16 de junho de 2015

"Ou é ou não é. Agora cá merdas". Isso de "coisas de gajo" não existe, vamos lá deixar de arranjar desculpas


Patrícia Motta Veiga na Maria Capaz 
Coisas de Gajo 

"Nas minhas conversas com amigas, sobre o sexo oposto, claro está, a conversa costuma terminar com um “isso é coisa de gajo, não há nada a fazer”.
No mais fundo de mim, mesmo que anua para atenuar as mágoas próprias ou alheias, não consigo concordar com isto. Não há coisas de gajo e coisas de gaja, já nem nos cremes ou no futebol, pois que é vê-los a lambuzarem-se e a elas a chamarem nomes ao árbitro.
Ah, ele não telefonou? – Coisa de gajo, não se lembra!
Minhas amigas, todas nós já tivemos um ou mais (com a graça do Senhor) tipos atrás de nós que nos ligavam a cada meia hora só para ouvir a nossa voz e não eram menos másculos por causa disso. Se os quiséssemos eram queridos, se não os quiséssemos passavam a melgas. Mas tivemos.
Também nós já ligámos muitas vezes para alguns e de outros nem nos lembrávamos e isso não tem nada a ver com coisas de gaja, mas simplesmente com interesse ou falta dele.
O amor é uma dança e quem o quer faz-se à pista! Sendo que haverá uns que, mesmo tendo aparentado uma grande vontade de dançar no início da noite, alegam calos, varizes e joanetes, sentando-se cansados e apáticos.
Aquela conversa do “vamos lá manter a nossa relação secreta porque eu não gosto de exposições” é mesmo para quem acreditar? Vá lá.
Coisa de gajo é andar todo vaidoso com a sua mulher ao pendurão, falar dela, de como é doce, inteligente, cheia de força (é uma coisa que os homens gostam muito de referir, mesmo que a tipa tenha sido dondoca toda a vida e o máximo esforço a que se propôs foi cortar as unhas aquando das férias da sua manicure).
Coisa de gajo é mostrar aos amigos o que os seus dotes de macho conseguiram conquistar e mesmo que ela seja igual à Carlota Joaquina, de bigode e sem banho num país tropical, e os amigos dele a vejam exactamente assim, ele não vai ver, simplesmente porque gajo que é gajo, quando anda doido por uma feia, não é isso que vê, vê a mulher com mais pinta do mundo e anda o dia inteiro a pensar que lha roubam.
Quando as pessoas estão apaixonadas, quando as pessoas gostam mesmo do outro, põem-se em campo quase inconscientemente, e sim, trocam um programa, seja ele qual for, por uns minutos com a pessoa que amam, e todos nós sabemos que é exactamente assim. Atravessam a cidade a pé, o país à boleia, o mundo num atrelado de um camião, mas arranjam sempre maneira.
Uma mulher que tem a certeza que o tipo com quem anda a ama a sério, fica aflita quando ele não telefona porque sabe que se não fez, é porque está deitado num beco depois de um violento assalto e provavelmente tem o baço rebentado. Tem a certeza absoluta disso, porque se ele se pudesse mexer ou abrir a boca, no meio de uma reunião, no alto dos Pirenéus, no fundo do Atlântico ou de uma esquadra da polícia, ele arranjaria forma de ligar, simplesmente porque nada é mais importante do que estar perto, seja de que forma for, da pessoa que se deseja, da pessoa que não se quer perder.
Quem é que nunca escondeu o telefone no bolso para ir à casa de banho no meio de uma reunião?
Pois é.
Isto é simples, profundamente simples: Se ele nos quer, não se esquece de nada, nunca está ocupado, nunca fica sem soluções. Aparece à hora de almoço em frente ao nosso emprego com uma sanduíche recheada daquilo que nós mais gostamos e uma flor de plástico, decrépita, da loja sebenta do indiano porque tinha de nos levar alguma coisa. Quando um homem anda louco por uma mulher, a não ser que esteja a ser operado ao coração ou esteja presente ao juiz, nunca tem o telefone desligado, sabe sempre os nossos horários, acima de tudo porque sabe ou acredita que ela é tão especial que, se ele deixar de estar presente, pode deixar de ser necessário e não quer arriscar aquilo que é a sua mais preciosa conquista.
Não há coisas de gajo mas há coisas de gajos que não estão apaixonados e é isso que algumas das meninas que eu conheço precisam de entender de uma vez por todas, sob o perigo de um dia destes perderem o entusiasmado que estava mesmo ali ao lado.
Não é preciso perguntar a um homem se ele nos ama, gajo que é gajo diz-nos isso, a sério, à homem, tantas vezes quanto o coração lhe encher… Gajo que é gajo, vai rodear-nos de atenções e apertar-nos os ombros só para ter a certeza que desta é que é, que não fugimos.
Os homens e as mulheres quando gostam portam-se exactamente da mesma maneira porque a coisa é simples, e de uma vez por todas, enfiemos nas cabecinhas: Ou é ou não é! Agora cá merdas…"

sexta-feira, 5 de junho de 2015