Patrícia Motta Veiga na Maria Capaz
Coisas de Gajo
"Nas minhas conversas com amigas, sobre o sexo oposto, claro está, a conversa costuma terminar com um “isso é coisa de gajo, não há nada a fazer”.
No mais fundo de mim, mesmo que anua para atenuar as mágoas próprias ou alheias, não consigo concordar com isto. Não há coisas de gajo e coisas de gaja, já nem nos cremes ou no futebol, pois que é vê-los a lambuzarem-se e a elas a chamarem nomes ao árbitro.
Ah, ele não telefonou? – Coisa de gajo, não se lembra!
Minhas amigas, todas nós já tivemos um ou mais (com a graça do Senhor) tipos atrás de nós que nos ligavam a cada meia hora só para ouvir a nossa voz e não eram menos másculos por causa disso. Se os quiséssemos eram queridos, se não os quiséssemos passavam a melgas. Mas tivemos.
Também nós já ligámos muitas vezes para alguns e de outros nem nos lembrávamos e isso não tem nada a ver com coisas de gaja, mas simplesmente com interesse ou falta dele.
O amor é uma dança e quem o quer faz-se à pista! Sendo que haverá uns que, mesmo tendo aparentado uma grande vontade de dançar no início da noite, alegam calos, varizes e joanetes, sentando-se cansados e apáticos.
Aquela conversa do “vamos lá manter a nossa relação secreta porque eu não gosto de exposições” é mesmo para quem acreditar? Vá lá.
Coisa de gajo é andar todo vaidoso com a sua mulher ao pendurão, falar dela, de como é doce, inteligente, cheia de força (é uma coisa que os homens gostam muito de referir, mesmo que a tipa tenha sido dondoca toda a vida e o máximo esforço a que se propôs foi cortar as unhas aquando das férias da sua manicure).
Coisa de gajo é mostrar aos amigos o que os seus dotes de macho conseguiram conquistar e mesmo que ela seja igual à Carlota Joaquina, de bigode e sem banho num país tropical, e os amigos dele a vejam exactamente assim, ele não vai ver, simplesmente porque gajo que é gajo, quando anda doido por uma feia, não é isso que vê, vê a mulher com mais pinta do mundo e anda o dia inteiro a pensar que lha roubam.
Quando as pessoas estão apaixonadas, quando as pessoas gostam mesmo do outro, põem-se em campo quase inconscientemente, e sim, trocam um programa, seja ele qual for, por uns minutos com a pessoa que amam, e todos nós sabemos que é exactamente assim. Atravessam a cidade a pé, o país à boleia, o mundo num atrelado de um camião, mas arranjam sempre maneira.
Uma mulher que tem a certeza que o tipo com quem anda a ama a sério, fica aflita quando ele não telefona porque sabe que se não fez, é porque está deitado num beco depois de um violento assalto e provavelmente tem o baço rebentado. Tem a certeza absoluta disso, porque se ele se pudesse mexer ou abrir a boca, no meio de uma reunião, no alto dos Pirenéus, no fundo do Atlântico ou de uma esquadra da polícia, ele arranjaria forma de ligar, simplesmente porque nada é mais importante do que estar perto, seja de que forma for, da pessoa que se deseja, da pessoa que não se quer perder.
Quem é que nunca escondeu o telefone no bolso para ir à casa de banho no meio de uma reunião?
Pois é.
Isto é simples, profundamente simples: Se ele nos quer, não se esquece de nada, nunca está ocupado, nunca fica sem soluções. Aparece à hora de almoço em frente ao nosso emprego com uma sanduíche recheada daquilo que nós mais gostamos e uma flor de plástico, decrépita, da loja sebenta do indiano porque tinha de nos levar alguma coisa. Quando um homem anda louco por uma mulher, a não ser que esteja a ser operado ao coração ou esteja presente ao juiz, nunca tem o telefone desligado, sabe sempre os nossos horários, acima de tudo porque sabe ou acredita que ela é tão especial que, se ele deixar de estar presente, pode deixar de ser necessário e não quer arriscar aquilo que é a sua mais preciosa conquista.
Não há coisas de gajo mas há coisas de gajos que não estão apaixonados e é isso que algumas das meninas que eu conheço precisam de entender de uma vez por todas, sob o perigo de um dia destes perderem o entusiasmado que estava mesmo ali ao lado.
Não é preciso perguntar a um homem se ele nos ama, gajo que é gajo diz-nos isso, a sério, à homem, tantas vezes quanto o coração lhe encher… Gajo que é gajo, vai rodear-nos de atenções e apertar-nos os ombros só para ter a certeza que desta é que é, que não fugimos.
Os homens e as mulheres quando gostam portam-se exactamente da mesma maneira porque a coisa é simples, e de uma vez por todas, enfiemos nas cabecinhas: Ou é ou não é! Agora cá merdas…"