Trapézio

Sentada no trapézio fico imóvel. Meteste-me num baloiço demasiado alto, até para mim que sempre fui uma aventureira. Com a consciência de que não tenho rede, olho para baixo e sinto-me tonta. Apesar do trapézio estar parado, a minha cabeça vira um autêntico carrocel. Um turbilhão de pensamentos contraditórios invade-me sem que tenha sequer tempo de os descortinar. Entrelaçam-se, abraçam-se e repudiam-se numa luta absurda. Não os controlo nem consigo fazê-los abrandar. Muitas vezes não sou dona da minha mente.
Chegas e agarras a corda que liga o trapézio ao chão. Muitas vezes és tu que estás lá, a segurar a corda que faz rodar o trapézio onde estou sentada. Puxas cordéis, fazes-me girar e balanças-me convencido de que sou uma marioneta, uma boneca inanimada que pode cair do trapézio para tua diversão. Tento agarrar-me, uma mão em cada corda, e fecho os olhos com toda a força para não ver a distância a que estou do chão. Peço-te para me desceres mas tu ignoras. Ris e fazes rir mais uns quantos num número de mau gosto onde me usas como manobra de diversão. Ris-te por fora enquanto me matas por dentro.