quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Quando eles escrevem assim...#1

O Fernando Alvim surpreendeu-me, desta vez surpreendeu-me a sério. Gosto muito de ler textos de homens, dos que não escrevem romances, sobre paixão. Gosto mesmo. Boa Alvim!

"Chegou a hora de falar de paixão e deixar de bajular o amor. Se me permitem - e com verdade não está aqui ninguém que me impeça - tem que ser feita justiça em relação à paixão. Mas uma justiça de milícia popular, com archotes e enxadas na mão, uma justiça que nos ponha roucos, de cara ruborizada, com as veias dilatadas como nos discursos de tomada de posse do Valentim Loureiro. Por mim, corta-se já uma estrada, uma avenida central, a pista do Jamor.

Por mim é já hoje, um buzinão na ponte, nas portagens, uma greve geral, o que for, mas assim é que não pode continuar. E digo-vos já porquê, deixem-me só beber um copo de água. A paixão tem sido de forma sistemática, ao longo dos anos, de forma quase velhaca, prejudicada pela equipa de arbitragem. Não há jogo nenhum, em que o amor não seja levado mais a sério do que a paixão. E eu não posso concordar com isto. E não me venham aqui os amorosos do costume dizer que a paixão é a primeira fase e que depois se desenvolve o amor e tal e coiso, que é algo progressivo e que assim é que bonito. O tanas, é que é bonito. A paixão pode durar uma vida. A paixão mete o amor num chinelo e levanta um estádio inteiro com uma jogada de génio. O amor quando muito passa a bola, mas não faz aquela jogada que leva as pessoas ao estádio. O amor é Moutinho, a paixão é Hulk. A paixão é o toque de calcanhar do Madjer, o amor é um remate certeiro mas só isso. As pessoas festejam o golo, mas o da paixão, o da paixão é outra coisa. O da paixão é marcado no último minuto, é o penalty que nos leva à final do campeonato europeu quando já todos roíamos as unhas. A paixão rói as unhas, o amor passa a vida a tratá-las para não partirem. E esta é a principal diferença, a paixão não tem tempo para pedicura. A paixão tem pressa e corre para apanhar o autocarro. O amor espera que venha outro. A paixão não é nada disto, é outra gente.

Ouçam, a paixão não faz fretes, ninguém quando está apaixonado liga para a outra pessoa porque tem que ser. Na paixão não tem que ser, é. Já o amor é o que se sabe, uma folha de cálculo, organizadinho, com a camisa aos quadradinhos, risquinho ao meio no cabelo, um exemplo para a família, bravo, bravo! Pois a paixão também o pode ser. E está na altura de não a subestimarmos mais. Alguém que diga que está apaixonado por outra, não pode ser tratado como se fosse um amante. A paixão pode também nunca morrer, pode ser para sempre, sem precisar dessa coisa do amor. A paixão é independente, é música alternativa. O amor é hit parade, é sucesso na rádio cidade. O amor dificilmente viverá sem a paixão e não me venham dizer que o contrário também é verdade, porque pode muito bem ser e daria cabo de toda esta minha tese que conclui precisamente agora."

14 comentários:

Katty disse...

Muito fixe ;)

S* disse...

Texto mais bonito. Eu acredito nessa PAIXÃO que dura, nos sentimentos sempre acesos... ou quero acreditar.

The Cherry on Top disse...

Genial, como nos tem habituado!:)

Dani disse...

Alvim, gosto tanto dele e desta vez esmerou-se.
Ficou óptimo :)

LadyChic disse...

Gosto... =)

siceramente disse...

ah!!!!!!!!! finalmente fez-se luz! hoje o meu facebook encheu-se de frases sobre a paixão com futebol à mistura! está aqui a resposta :D ehehe

She knows disse...

O Alvim na rádio e (às vezes) na escrita supera-se. Quando a imagem, por exemplo, na televisão vem associada é que estraga tudo!

Microondas disse...

bonito mas totalmente infantil e irreal. Paixão para sempre não existe. E ainda bem. Porque o amor, ao contrário do que ele diz, tem muito mais valor que a paixão. A paixão é aliás uma ferramenta, de procura e de sustentação do amor. O que há a descobrir é a forma de fazer com que o amor permita paixão recorrente, prolongada, recuperada e alimentada. Agora apaixonado para sempre? nem mesmo o Alvim.

Anónimo disse...

Muito bom.

SuperSónica disse...

Muito bom mesmo!

Cate disse...

Também adorei, está genial. Geralmente, gosto dos textos do Alvim.

viajanteintemporal disse...

O texto está muito bom. Escreves bem e já vi que tens bom gosto para o futebol.

Anónimo disse...

Concordo com o Capitão MicroOndas. Numa relação de amor de 12 anos, a paixão é recorrente mas não constante. E somos muito felizes :). As borboletas na barriga vão e vêm, no decorrer do caminho. Dúvido que existam 12 anos de paixão em estado constante, até porque os picos emocionais deixariam qualquer pessoa "esgotada" :)T.

м disse...

quando li não tinha visto o autor, mas associei de imediato. o fernando alvim é muito mais do que aquele parvinho que diz coisas engraçadas, principalmente quando escreve assim. adoro