O início de uma paixão é das fases mais angustiantes, apesar de salpicada a emoções que nos deixam com aquele sorriso parvo na cara, que se podem viver. É a fase de todas as dúvidas, dos receios, das inseguranças. Sabe bem? Sim sabe, mas que causa angústia é um facto. Uma total agonia, e até um puto de oito anos sabe disso.
Tal como um amigo me me dizia ontem, é a fase mais pateta que se vive. "É acordares e pensares nela, quereres saber se já acordou, se dormiu bem, se já vai a caminho do trabalho. É ouvires-lhe a voz como forma de iniciares o dia. É a fase em que te sentes inseguro. É ires na rua com ela e meteres os braços para baixo e pensares: assim se ela quiser pode dar-me a mão, está aqui a jeito. Será que me vai dar a mão na rua? Se sim é porque gosta de mim?".
Por muito que estas perguntas possam parecer ridículas todos as fazemos para dentro. "É quereres falar com ela a toda a hora. É angustiares porque lhe ligaste e ela não atende, mesmo que só tenham passado cinco minutos. Porque é que ela não ligou ainda de volta?".
Depois de o ouvir falar da rapariga por quem está apaixonado, acabou por me confessar que se sente muito inseguro:
"As coisas são complicadas. Isto está a ser demais, e eu não gosto de coisas complicadas..." Perguntei-lhe se ela sabia o que ele sentia."Sabe, e até já estivemos juntos várias vezes..."
Eu que sou um desastre com pernas, e meto sempre os pés pelas mãos nestas coisas, limitei-me a deixá-lo falar.
"As pessoas se gostam gostam", continuava ele.Uma vez que já estiveram juntos várias vezes e que parece que a situação nem ata nem desata atirei-lhe a pergunta: Mas ela tem alguém? "Não mas ainda não esqueceu o ex namorado. Uma história mal terminada".
Foi aqui que me calei. Se por uma lado acho que as histórias mal terminadas não deviam ter espaço na vida de ninguém, por muito que custe ter aquela conversa final, a de rebentar a corda para depois de seguir em frente sem amarras, por outro acho que quando é mesmo paixão o passado perde na balança. E antes de me passar pela cabeça dizer-lhe o que estava a pensar, disse-o ele, com palavras que poderiam ser as minhas, as que tinha para lhe dar.
"Acho que quando alguém mexe o suficiente...o passado enterra-se. Ou te apaixonas ou não, é simples. Apaixonas-te do nada sem data marcada, não precisas de x período de tempo para esquecer ninguém, porque uma pessoa nova invade automaticamente esse lugar. Tenho a minha teoria: se gostas de alguém, se mexe assim tanto contigo, tudo o resto passa para segundo plano. E eu gosto de paixões fortes, que surgem do nada e apagam passados, as que te obrigam a dar passos largos sem olhar para trás. Daquelas em que fechas os olhos, apesar de estares cheio de medo, e atiras-te, por querer. Só assim as coisas fazem sentido para mim. Queima-se a paixão enquanto há madeira para arder e espera-se que antes de sobrarem só cinzas tenha nascido Amor".
E sim, é o que todos esperamos, o que queremos.
Espero que ele não se magoe, espero que a paixão seja correspondida, porque sei que é daquelas pessoas que se entrega, sem reservas. E concordo com ele, há que viver intensamente as paixões, sem amarras, de cabeça livre, por querer, por vontade. E acima de tudo, mostrar isso à outra pessoa. Que a queremos, ali, agora, amanhã. E é por isto que sei que apesar de muitas vezes afirmarmos que somos mais emocionais que eles, mais inseguras, mais complicadas, há homens que tal como nós vivem a fundo a angústia do início de uma paixão, naquelas semanas em que não fazemos ideia do que fazer, o que dizer. Se avançamos ou não, se nos damos. E são estes os homens que valem a pena. Os que sabem chorar, os que não têm problemas em dizer em voz alta o que sentem, os que fazem questão de em gestos nos mostrar o que significamos. Os que não escondem emoções. Os que mostram alguma fragilidade quando a sentem. Os que pegam no telefone e ligam só porque nos querem ouvir a voz. Só porque sim. Por querer. Por vontade. E a vida é feita disto, de emoções, de paixões, de sonhos, de partilhas, ainda que com rasgos de angústia de vez em quando. E no fim esperamos olhar para trás e dizer que sim, que valeu a pena.