Atendeu o telefone entre soluços de choro. Não se fez nem de forte nem disfarçou. Continuou a chorar. Disse-lhe quem era, o motivo do meu telefonema, o dele estar a chorar. Disse-me que sim, que faria o que lhe pedi. Trabalho ou não, há telefonemas que custam fazer, que nos deixam de coração nas mãos. Nós jornalistas também sentimos, também já todos perdemos um amigo, ninguém retira prazer da dor de ninguém, nesta altura não interessa quem vai ter um exclusivo ou quem consegue explorar um ângulo diferente. A dor de se perder um amigo tem apenas um ângulo, um triste. Não se fica indiferente à dor de ninguém que nos a mostra de forma tão sincera. Há dias em que me custa muito, mesmo muito, fazer este trabalho.