quarta-feira, 28 de julho de 2010

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Ter um "sexto sentido" que me alerta para a possibilidade de, ao subir a escada, colocar mal com o pé antes de chegar ao degrau pode ser tão libertador como castrador.
São muitas as vezes em que bato com o pé a meio do degrau e luto para não cair escada abaixo, numa dança mais que patética. E apesar de sentir um certo conforto em saber que o tenho, o tal do "sexto sentido", que se traduz na consciência clara de saber que devia levantar mais o pé, sei que sem ele teria a sorte não conhecer a sensação de aflição que se sente nos segundos em que ainda não sabemos se ficamos de pé ou se estiradas no chão.
E há palavras conjugadas em frases, e frases que se conjugam com pensamentos em voz alta, e mais palavras, umas com sentido, outras só sonorizadas, pensamentos inocentes que se libertam entre beijos, duros os pensamentos, macios os beijos, ao contrário deles, outros nem tanto, mais palavras, com os quais me distraio, com os pensamentos ditos em voz alta e muitas vezes com as minhas próprias palavras, que me facilitam tropeçar. Sim, eu de vez em quando tropeço nos meus próprios pés.

Quando tropeço na presença de alguém tendo a ficar de pé, dou a perceber que não sinto qualquer aflição nos momentos em que não sei se vou acertar com o pé no degrau ou acabar estirada no chão. Até porque esta será uma inquietude só minha. Faço o mesmo quando ouço verdades cruas. Mas estas, também elas embrulhadas em pensamentos em voz alta, com palavras e frases pelo meio, com verbos conjugados no fim, com ideias soltas que no entanto são alinhavadas com fios de raciocínio, desta vez já dentro da minha cabeça, são as que me fazem descer à terra, com ou sem degraus, e colocar-me um travão - ter a sensação de que estou a subir a escada a passo apressado? Ou apenas a um mais apressado. Vou meter-me um limite de velocidade. Na subida das escadas, nas palavras atiradas, nas frases sem sentença, nos pensamentos que se tornam sonoros. E sim, eu costumo parar ao sinal vermelho. E obrigo-me a abrandar no amarelo, onde se vive em slow motion.


7 comentários:

Anónimo disse...

Não, tu nunca chegas a tropeçar. Nem nos teus próprios pés.
Porque quando enfrentas os teus degraus começas a ver semáforos e a imaginá-los vermelhos, quando, a existirem, talvez fosse verde a luz que emanariam.
Porque de cada vez que olhas para a escada vês queda, pensas tropeção, imaginas-te estendida ao comprido no chão - e porque interiorizas que estirada no chão não pode ser se não o resultado do tropeção e da consequente queda.

E... se não desviares o olhar... achas que consegues não tropeçar?
E... consegues imaginar-te estirada no chão... apenas porque te apeteceu?

Miss Complicações disse...

Acho que precisamos de beber uns copos ;)

Pipoca dos Saltos Altos disse...

@Miss,
Qualquer desculpa é uma boa desculpa, e tenho saudades tuas... (calma, estou bem, muito bem :))

@Anónimo,
???????????
Acho sempre estranho, que sob anonimato, alguém dê a ideia de me conhecer, ou saber como funciono, mesmo que não seja verdade. E se fosse alguém que me conhecesse, não escreveria nada disto...

Pipoca dos Saltos Altos disse...

E isto é um blogue, não um diário...

Sérgio Mak disse...

E aquilo também não é roupa para levar para o meio dos canaviais, mas tudo bem :p

Jibóia Cega disse...

Estou com a Miss, acho que precisas de beber uns copos. Não chegou aí a grade? ;)

PS - Mak, quais canaviais?

Sofia disse...

Tenho esse mesmo sexto sentido... às vezes é uma treta.