E ao tropeçar nesta foto fiquei com saudades da MadeiraTenho demasiadas vezes a sensação de estar a ser avaliada ao detalhe. Conversas do nada salpicadas com perguntas sem trampolim, pedidos de opinião sobre assuntos para os quais não há uma resposta linear, feitas por quem muitas vezes acha que a vida é a preto e branco - não é.
Provas a superar. Dedos apontados. Conselhos que são mais pedidos que sugestões. Até que ponto me querem ver estendida ao comprido? Não sei. Se falhar uma prova há consequências? Não faço ideia, ou faço, possivelmente sim. Na verdade, não me importa chumbar. Nem um bocadinho. Só chumbo às que quiser, asseguro-vos. Não me importo de as chumbar, de forma consciente, a todas. Asseguro-vos, não me importo mesmo nada.
É que sei que no fim de tudo sobro eu, e mais vale sobrar alguém que sabe quem é. Não preciso de me pôr à prova. Não faço ideia do número de provas que já superei, ninguém faz, foram muitas. Algumas tento que a memória as apague, é certo.
Sei do que sou feita.
Tará valido a pena para chegar até aqui? Não sei. Não o questiono.
Não mudo, sou como sou e gosto que assim seja. Mas agora sou feita de chumbo e betão. Não me vergo com facilidade. Tal como aço, com calor posso ser maleável, mas nunca me desuno. Em tempos fui fragmentos, em tempos fui mil estilhaços. Repito: reconstruí-me a betão e vergas de aço.
Algumas das pessoas que me metem à prova não façam ideia de quem eu sou, não saibam do que sou feita, e sim, elas cruzam-se comigo todos os dias. Falam-me, tocam-me, abraçam-me. Mas a dada altura tenho a sensação de que estão mais preocupadas em engendrar provas para eu falhar ou superar do que a olharem-me para dentro. Haverão pessoas que me olham nos olhos o resto da vida sem me conhecerem. A mim.
Parece que anda mais gente a ver se alguém merece crédito, se se é boa o suficiente em merdas frívolas, do que de que massa se é feito. É pena. Consigo contar, pelos dedos de uma única mão, o número de pessoas que podem dizer, sem margem de erro, que me conhecem. São muito poucas para quem se dá com tanta gente. São poucas, são as minhas pessoas, são as que escolhi e que a certa altura deixei, por as ver esforçarem-se para isso, que me olhassem para dentro. Essas? Essas nunca me poriam à prova, já sabem que sou feita de aço e betão.