Não tenho a certeza de que horas seriam. Sei que na rua o sol já tinha sido roubado. E tal como o sol, as minhas palavras. Não sei que horas seriam. Sei que tal como na rua, o meu coração já pouco solarengo, ficou à escuras. Não sei que horas seriam, quando me roubaram as palavras. Sei que era domingo, mas não sei que horas seriam. Mas não foi só o sol que foi roubado à rua. Nem luz por aí pelos corações. Do que me lembro, apesar de não me conseguir lembrar de que horas seriam, foi de que também me desaparecerem outras coisas. Não, não foi só o sol à rua nem a minha memória de não saber agora que horas seriam. Expectativas. Foram roubadas e atiradas para o chão da rua, que já estava escura, porque o sol tinha sido roubado. Fé. Fé em mim. Em ti. Fé. Ainda havia uma réstia, mesmo depois de terem sido roubadas as palavras. Meteram-me a mão pelo peito adentro e desligaram-me inúmeros fios que os ligam ao resto do meu corpo. Arrancaram-nos. E já me tinham roubado as palavras muitas vezes antes. A agora ando aqui, a tentar ligar botões, fios aos botões, a tentar fazer contacto. Ando a tentar fazer contacto comigo mesma. E não sei que horas seriam, quando me desligaram o suporte, os fios que faziam de mim quem sou. Não sei que horas seriam.