Lembro-me perfeitamente do meu primeiro dia de trabalho aí. Fui recebida com olhares de estranheza e simpatia. Em poucas horas estava a almoçar numa mesa cheia de gente e nas pausas para o cigarro vários colegas e editores meteram conversa comigo. Entre perguntas e dicas, todos remataram a conversa com um "se precisares de ajuda não tenhas problemas em pedir-me".
A sala era enorme, dividida por "ilhas" e apesar de todos estarem ocupados, a cada vez que levantava a cabeça alguém cruzava o olhar comigo e sorria. Para mim, que estava habituada a uma redacção pequena, aquela sala, a que ocupa um andar de um prédio inteiro, era assustadora.
Logo no primeiro dia, vi caras que já conhecia. O Marco, a Fernanda, a Xana. E se já gostava deles, naqueles dias de trabalho, muitos deles sob uma pressão a que não estava habituada, entraram-me no coração. Foi com eles que aprendi quase tudo o que sei agora. Porque me deram na cabeça a cada vez que errei, mas explicaram-me o porquê. Porque me deram palmadinhas nas costas a cada vez que brilhei. Porque nunca me trataram como uma estagiária. Porque apostaram em mim para artigos para os quais possivelmente ainda não teria bagagem profissional. No 24horas tive a oportunidade de assinar artigos na secção de social, escrevi para o desporto, para o nacional. Nunca havia rotina, era com um sorriso que ia trabalhar. Sabia que a qualquer instante podia estar a fazer uma coisa que nunca tinha feito antes e isso enchia-me de garra.
O Ricardo, apesar de estar sempre ocupado com trinta mil coisas, nunca me deixou sentir desamparada. Lembro-me de que nos primeiros tempos era com frequência que me perguntava, sempre com aquele sorriso que lhe é típico:"Está tudo a correr bem? Precisas de alguma coisa?". São estas coisas que marcam a diferença entre locais de trabalho, redacções neste caso.
E foi o Ricardo a pessoa, que sem me conhecer de lado nenhum, sem provas dadas, me deu a oportunidade que eu precisava na altura. E, por mais anos que passem, nunca vou poder agradecer-lhe devidamente. Mais uma vez, Obrigada! Espero nunca te ter desiludido.Já passei por várias redacções e nunca, nunca, tinha encontrado uma ambiente assim. Saudável, sem competições parvas, de ajuda, de cumplicidade. E este ambiente começava na redacção e estendia-se prédio fora, aos seguranças que tantas vezes às 4 da manhã me foram ligar as luzes porque sabiam que eu não gostava de subir para a sala às escuras sozinha, ao Sr. Andrade que tantas secas apanhou quando precisei de motorista para algum serviço, às senhoras da limpeza com quem me cruzei várias vezes, aos fotógrafos que sempre me trataram bem e me enturmaram.
Sei, com alguma tristeza, que nunca mais vou trabalhar num ambiente assim. Sabia-o no dia em que me fui embora do 24horas e sei-o hoje.
O fecho de um jornal é sempre visto pelos que nele trabalham, e pelos de fora mas que conhecem a área, como um golpe baixo. Apesar de não se ser apanhado de surpresa, a incerteza e o receio em relação ao futuro tem um peso brutal. São muitas pessoas, muitas famílias. Pessoas que trabalham ali há um par de anos, pessoas que lá trabalham há uma década.
Jornalistas que vão ter dificuldade em arranjar emprego, não por serem maus, por serem bons demais. E isso é caro, claro.E hoje queria poder dar-vos um abraço. Patrícia, Vânia, Sofia, Ana, Xana, Mira, Ricardo, André, Vanessa, Benny, Dília, Baião, Filomena, Gerardo, "miúdos do desporto"...e a todos os outros, que fizeram desta redacção um círculo de amigos mesmo nos dias mais complicados, a todos, um beijo, um abraço. No futuro vamos rir disto, com saudade, com alívio, com nostalgia. Obrigada a todos. Força!
Tenho a certeza que nos vamos cruzar em breve por aí, de gravador na mão.