1 - Estive a 10 centímetros do Cristiano Ronaldo e ele não mandou ninguém atirar-me ao rio. Ufa, é que estava com roupa que tem que ser lavada a seco.
2 - Levei com mais um telefonema da minha mãe a dizer:"não te vejo há dois meses, mas bom, vi-te agora na televisão"
3 - Um dia vou perceber o que vão fazer as pessoas para o aeroporto e para a porta do hotel do Jamor
4 - Depois de duas semanas a trabalhar todos os dias seguidos, vou ali dormir umas horas que já nem aguento os olhos abertos.
"Tira a mão do queixo não penses mais nisso o que lá vai já deu o que tinha a dar quem ganhou ganhou e usou-se disso quem perdeu há-de ter mais cartas p´ra dar E enquanto alguns fazem figura outros sucumbem á batota chega a onde tu quiseres mas goza bem a tua rota
Enquanto houver estrada p´ra andar a gente não vai parar enquanto houver estrada p´ra andar enquanto houver ventos e mar a gente vai continuar enquanto houver ventos e mar
todos náo pagamos por tudo o que usamos o sistema é antigo e não poupa ninguém somos todos escravos do que precisamos reduz as necessidades se queres passar bem que a dependência é uma besta que dá cabo do desejo a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo"
A ser filha de Deus, sou-a de um deus menor. E é por isto que não lhe inicío o nome com capitular. Eu, a ser filha de um deus menor não lhe ergo estátuas, altares nem lhe prometo nada. Faltaram-me a vida toda coisas essenciais. Tenho as bastantes, mas pari-as a ferros e pago uma factura alta. É o ser filha de um deus menor. Ainda assim, de vez em quando, tento ter esperança num Deus maior. Não lhe peço nada, é certo, mas de vez em quando dou por mim a ter uma certa fé que ele exista e que um dia me acolha como filha. Com tantas pedras das quais me deviei, de tantas dores das que me acertaram, mereço um dia ter o que me foi negado. Um dia talvez eu seja acolhida como filha de um Deus maior. E ele saberá que não peço nada e o que espero é pouco. Deve ser por isso que estou chateada com ele há tanto tempo. Houve uma época em que lhe rezava e tudo, mas senti-me sempre enganada. Até prova em contrário não lhe inicío o nome com capitular e considero-me filha de um deus menor.
Agora dava aqui uma de bloguer catita (not) e espetava uma foto do belíssimo jantar que fiz, mas não, é que depois ainda me pediam fotos da roupa que tenho vestida, e preços e essas coisas...não sou uma it bloguer. Mas segundo a minha avó, como boa cozinheira e boa nas tarefas domésticas, sou um partido e tanto. Ou não, continuo solteira. Os homens já não se prendem pelo estômago e preferem uma mulher de langerie e saltos altos pela casa que uma boa dona de casa. Ahahahaha. De certa forma acho que eles têm uma certa razão...
(e assim se irritam no mesmo post as fashion bloguers, as dos blogues de cozinha e as feministas)
Dinis sei que era suposto nesta altura da nossa vida sermos ricos e estarmos a festejar o teus TRINTA (esperavas por mim uns meses) em las Vegas, ou Miami ou noutro sítio louco qualquer. A vida trocou-nos as voltas - somos pobretanas. Mas tiveste os teus amigos, irmãos por opção, irmãos escolhidos pelo coração. E a festa foi muito boa!!!! Adoro-te trintão charmoso!
Entra um colega meu a rir-se e mostra-me, a gozar com uma cara de orgulho forçado, um cd autografado de uma cantora. Eu atiro um "ó que car#alh#" no preciso momento em que ela entra e diz "boa tarde a todos". Porra. Agora quem não viu o elefante na sala fui eu...
Há um elefante no meio da sala e ninguém fala disso. É-me sempre complicado, dar por conta que está um elefante no meio da sala e estar toda a gente a fingir que não se passa nada. É que um elefante no meio da sala não é uma coisa que passe despercebida, é impossível caramba! Não se vê que está um elefante no meio da sala? É cor-de-rosa choque com listas verdes, dá mesmo para ignorar? Tipo: não é comum haver um elefante no meio da sala. Podemos falar sobre isso? Um elefante de cores invulgares no meio da sala é mesmo possível ignorar?
Faz 124 anos que nasceu, na freguesia de Mártires (Chiado), Lisboa, um dos maiores poetas universais: Fernando Pessoa. E como é um dos meus escritores preferidos, não podia deixar passar a data em branco.
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Disse-lhe uma vez adoro-te. Soltou-se a palavra e não havia vento para a levar para longe, ficou ali a pairar perto do olhar dele. Como um murmúrio que deixa eco, a palavra teve um peso egoísta. Não por ter sido solta mesmo ali, perto do olhar do rapaz, mas porque se soltou mal se construiu nos lábios da rapariga. Já em casa, no silêncio, enquanto viajava pelas flashes dessa noite, entre travos de um cigarro pensativo, acanhados, os travos e a rapariga, perguntou-se em silêncio de que forma foi a palavra ouvida, ainda que entre ecos, pelo rapaz. Depois de decidir não dar mais peso à palavra, até porque "palavras leva-as o vento". Mas não houve vento quando a palavra se soltou o que fez com que a rapariga sentisse, por instantes, alguma inquietude. Era o passado, os episódios menos brilhantes, as estórias lacrimosas que volta e meia teimam em não deixar desatar nós mesmo quando as amarras já não têm força para prender. Imagens tremidas que o tempo, após ter lutado contra ele, já não deixa focar. Ignorou-os, apagou-os e desatou nós com a mesma força que têm mil beijos à chuva. No espelho focou a custo a sua própria imagem. Ficou a olhar para ela como se o tempo tivesse parado para que ela tivesse a oportunidade de a definir com qualidade fotográfica para a registar de seguida. No fim perguntou-se baixinho: Voltavas a dizer-lhe adoro-te?. Sorriu e assumiu que provavelmente sim. Tudo isto porque afinal ela é apenas uma rapariga, que gosta de um rapaz.
"Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei
sentir em doses homeopáticas. Não me importa o que é de verdade ou o que
é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e
me fazer crêr que é para sempre mesmo quando eu digo convicto que nada é
para sempre."
(Gabriel García Márquez)
Na data em que se assinala o Dia Mundial da Criança, é bom lembrar, ao invés de olhar para os putos felizes que brincam no quintal, é bom, e preciso, lembrar que há sítios no mundo, como o Gana e tantos outros, onde morrem dezenas por dia, às mãos dos adultos. E por cá, enquanto algumas crianças brincam felizes no quintal, há quem não tenha sequer um colinho. E sãoestas crianças que merecem que esta data saia do papel e entre nos corações das pessoas. Até lá, esta data é apenas uma efeméride, apenas mais uma efeméride no calendário.
É sempre em cima dos meus saltos altos que olho para o mundo. Se nem sempre as coisas são à minha maneira, se nem sempre vejo o que quero, ao menos que esteja mais alta. Tento olhar altiva, com uma postura hiper-feminina. O som dos saltos enquanto caminho obrigam o mundo a olhar para mim e a rodar a cabeça enquanto passo... Mas de saltos altos também é mais fácil cair...