quinta-feira, 24 de junho de 2010

Obrigada a todos. Vemo-nos por aí.

Lembro-me perfeitamente do meu primeiro dia de trabalho aí. Fui recebida com olhares de estranheza e simpatia. Em poucas horas estava a almoçar numa mesa cheia de gente e nas pausas para o cigarro vários colegas e editores meteram conversa comigo. Entre perguntas e dicas, todos remataram a conversa com um "se precisares de ajuda não tenhas problemas em pedir-me".
A sala era enorme, dividida por "ilhas" e apesar de todos estarem ocupados, a cada vez que levantava a cabeça alguém cruzava o olhar comigo e sorria. Para mim, que estava habituada a uma redacção pequena, aquela sala, a que ocupa um andar de um prédio inteiro, era assustadora.
Logo no primeiro dia, vi caras que já conhecia. O Marco, a Fernanda, a Xana. E se já gostava deles, naqueles dias de trabalho, muitos deles sob uma pressão a que não estava habituada, entraram-me no coração. Foi com eles que aprendi quase tudo o que sei agora. Porque me deram na cabeça a cada vez que errei, mas explicaram-me o porquê. Porque me deram palmadinhas nas costas a cada vez que brilhei. Porque nunca me trataram como uma estagiária. Porque apostaram em mim para artigos para os quais possivelmente ainda não teria bagagem profissional. No 24horas tive a oportunidade de assinar artigos na secção de social, escrevi para o desporto, para o nacional. Nunca havia rotina, era com um sorriso que ia trabalhar. Sabia que a qualquer instante podia estar a fazer uma coisa que nunca tinha feito antes e isso enchia-me de garra.
O Ricardo, apesar de estar sempre ocupado com trinta mil coisas, nunca me deixou sentir desamparada. Lembro-me de que nos primeiros tempos era com frequência que me perguntava, sempre com aquele sorriso que lhe é típico:"Está tudo a correr bem? Precisas de alguma coisa?". São estas coisas que marcam a diferença entre locais de trabalho, redacções neste caso. E foi o Ricardo a pessoa, que sem me conhecer de lado nenhum, sem provas dadas, me deu a oportunidade que eu precisava na altura. E, por mais anos que passem, nunca vou poder agradecer-lhe devidamente. Mais uma vez, Obrigada! Espero nunca te ter desiludido.
Já passei por várias redacções e nunca, nunca, tinha encontrado uma ambiente assim. Saudável, sem competições parvas, de ajuda, de cumplicidade. E este ambiente começava na redacção e estendia-se prédio fora, aos seguranças que tantas vezes às 4 da manhã me foram ligar as luzes porque sabiam que eu não gostava de subir para a sala às escuras sozinha, ao Sr. Andrade que tantas secas apanhou quando precisei de motorista para algum serviço, às senhoras da limpeza com quem me cruzei várias vezes, aos fotógrafos que sempre me trataram bem e me enturmaram.
Sei, com alguma tristeza, que nunca mais vou trabalhar num ambiente assim. Sabia-o no dia em que me fui embora do 24horas e sei-o hoje.
O fecho de um jornal é sempre visto pelos que nele trabalham, e pelos de fora mas que conhecem a área, como um golpe baixo. Apesar de não se ser apanhado de surpresa, a incerteza e o receio em relação ao futuro tem um peso brutal. São muitas pessoas, muitas famílias. Pessoas que trabalham ali há um par de anos, pessoas que lá trabalham há uma década. Jornalistas que vão ter dificuldade em arranjar emprego, não por serem maus, por serem bons demais. E isso é caro, claro.
E hoje queria poder dar-vos um abraço. Patrícia, Vânia, Sofia, Ana, Xana, Mira, Ricardo, André, Vanessa, Benny, Dília, Baião, Filomena, Gerardo, "miúdos do desporto"...e a todos os outros, que fizeram desta redacção um círculo de amigos mesmo nos dias mais complicados, a todos, um beijo, um abraço. No futuro vamos rir disto, com saudade, com alívio, com nostalgia. Obrigada a todos. Força! Tenho a certeza que nos vamos cruzar em breve por aí, de gravador na mão.

20 comentários:

Vanita disse...

Esses momentos são nossos. Já ninguém nos tira ;)

Beijos

Pipoca dos Saltos Altos disse...

:) é verdade. Vou guardá-los num cantinho muito especial, acredita.

Ricardo Martins Pereira disse...

Obrigado pelas tuas palavras, miúda.

Jibóia Cega disse...

Mas o jornal 24 horas vai acabar??

S* disse...

Ah... decisão pesada... Lamento sabê-lo.

Pipoca dos Saltos Altos disse...

@Ricardo,
Sou eu que agradeço. Força!

@Jibóia,
Sim, infelizmente sim...

@S*,
é triste, mas tenho fé que lhes corra tudo pelo melhor...

Jibóia Cega disse...

Pipoca, mas "cá fora" ainda não se sabe de nada...

Pipoca dos Saltos Altos disse...

@Jibóia,
Não creio que esteja a cometer nenhuma inconfidência. E gostava de estar enganada, a sério que gostava.

tia a. disse...

beijo, miúda.

Joana disse...

A sério?? Bolas, não estava propriamente à espera desta notícia.
Agora que era leitora assídua...

Prezado disse...

já era sabido que ia terminar, pelo menos online...

Boa sorte para a nova fase.

Pipoca dos Saltos Altos disse...

@Prezado,
Eu já não trabalho lá há muito tempo. Sorte precisam os que vão ficar sem emprego. Mas fico com o coração apertado pelos que ficaram até ao fim. Os corajosos. E acredito que se vão safar, todos.

Prezado disse...

Desinformado. Tanto jornalista e mesmo assim não sabia.

Passo os meus votos para o Ricardo, então.

Anónimo disse...

Força para o Ricardo e para todos os outros.

Escrevinhador disse...

Olá,
Gostei imenso do seu blogue. Achei, de facto, muito interessante. Convido a visitar e a ser seguidor do meu blogue, o Interjeições, em interjeicoes.blogspot.com.
Abraço.

Anónimo disse...

Muito Bonita esta Homenagem*

JP disse...

Confesso que o jornal e a sua linha editorial me causa(va)m urticária da pior, mas também sei que os jornalistas por trás da publicação têm que se sujeitar às ordens que lhes são dadas. Estou solidário com eles. E embora não conhecendo o meio, espero que não venham a sofrer de qualquer estigma por terem trabalhado no "24 Horas".

Cat disse...

Oh querida, que pena.. É muito bonito guardares esses momentos todos :)

Beijinho *

P. disse...

há sempre coisas boas a guardar... :)

muita sorte, pipoca **

Teresa disse...

Seja qual for a qualidade do jornal, é um momento triste assistir ao fecho.

Eu assisti ao fecho de um de nome lendário, que tinha tido enorme prestígio, e viria a acabar numa bandalheira. Fui a pessoa que supervisionou o carregamento dos últimos pertences para um armazém. Um arquivo fotográfico inestimável, entre outras coisas. Cortou-me o coração. Mesmo já não sendo aquilo um jornal.