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"O amor é fodido. Escreveu Miguel Esteves Cardoso. Mas não. Fodido é não amar. Claro que
se sofre quando se ama. Vive-se, por vezes, com a alma na boca, como um vómito que
insiste em azedar-nos a boca. Mas não. Realmente fodido é não amarmos.
Claro que, quando amamos, há uma tranferência de preocupação para outra pessoa e isso
angustia-nos. Como bichos egoístas que somos estamos habituados a preocuparmo-nos apenas
connosco. Dá-nos suores frios umas vezes e risos descontrolados noutras. Mas não.
Realmente fodido é não amarmos.
E há que esclarecer desde logo: amar não é estar apaixonado. Amor não é paixão. Por muito
que as coisas possam estar ligadas, não são a mesma coisa.
Paixão mata-nos por dentro, consome-nos. Embrutece-nos. Somos uns tontos, uns fantoches
da paixão que vive em nós. Alias, é ela que vive, porque nós morremos às suas mãos
cadavéricas. É uma violência.
O amor não. É a calma depois da tempestade. É a onda leve, certa e perfeita que dá à
costa. É a imensidão de nós próprios revistos no outro. É racional. Por mais que custe
aos puristas da coisa, aos poetas, aos loucos e aos imbecis, é racional. É
incompreensível porquê aquele outro. Mas percebemos que é amor e aproveitamos ao máximo o
que isso nos dá, oferece e nos gratifica. Sem nada pedir em troca. Sem exigir a nossa
vida, os nossos dias.
Por isso, fodido é não amar. Quem não ama não sente. E quem não sente não vive. Já a
paixão é morte. A nossa e a de quem nos rodeia. É a obsessão. E esta é intransigente.
Rói-nos a vida ao bater de cada dia, rindo-se descaradamente da nossa cara."
50 X 9
Há 16 horas
4 comentários:
Não há nada melhor na vida do que gostar honestamente de alguém.
Amei, amei! Simplesmente fantástico...
Lindo.
É fodido amar, e é fodido não amar. É fodido sentir saudade, mas é fodido não ter de quem sentir. É fodido ser fodido todos os dias.
Mas o que é que se há-de fazer? A vida é assim.
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