Já passaram uns anos desde que li uma crónica, numa revista feminina (EGO), sobre o Dia da Mulher. Afinal, o que celebramos? Hoje decido partilhar essa crónica aqui...porque faz todo o sentido.
"O Dia Internacional da Mulher não devia ser lembrado com flores, devia mostrar que tudo aquilo que se faz pelas mulheres, em todo o mundo, é ainda uma miragem.
No ano de 1857, exactamente a oito de Março, as operárias de uma fábrica de têxteis, em Nova Iorque, entravam em greve,
reinvidicando pela redução do seu horário de trabalho, de 16 para 10 horas diárias, uma vez que mesmo trabalhando as mesmas horas que os homens, recebiam apenas um terço do salário. Como resposta à queixa foram fechadas na fábrica, e 130 mulheres morreram queimadas num incêndio "acidental".
Em pleno século XXI, na
Índia, o estatuto de mulher casada, de uma casta inferior, não é melhor que o estatuto de um escravo, e são inúmeras e obrigatórias as tarefas domésticas às quais se juntam as exigências da vida de casada.
Neste mesmo país, apelidado de maior democracia do mundo, oito por cento das raparigas entre os oito e os 14 anos de idade estão casadas, assim como 50 por cento das jovens entre os 15 e os 19. A juntar a este silêncio sofrido, chamado de identidade cultural, as jovens vivem amedrontadas com a obrigatoriedade de dar à luz um neto, um macho, não para a sua felicidade, mas para agraciar a bondade dos sogros.
Como quem se livra de um objecto inútil, mulheres indianas
recém-casadas são queimadas pelos familiares do marido, ora por não terem um filho varão, ora por disputa de dotes mais ou menos recheados. Casos de violência multiplicam-se por todo o país resultando na morte frequente, ou em marcas eternas na cara e no corpo, feitas a
acido sulfúrico e querosene.
Portugal não é exemplo para ninguém, é sim um país de risco, onde cerca de 60 mulheres morrem por ano, na sequência de maus tratos e violência doméstica, e mais de 300, segundo a Associação de Apoio à Vítima (
APAV), são vítimas de crimes contra a vida e só em 2002 foram registados mais de 17 mil crimes de violência doméstica, 60 por cento dos quais relativos a maus tratos físicos, levados a cabo, na sua maioria, pelo cônjuge ou companheiro.
Hoje que se fala tanto em mutilação genital feminina, é tempo de relembrar o nosso ex-primeiro ministro, Durão Barroso, das suas garantias feitas num momento de êxtase, em Dezembro de 2002, nas quais referiu não deixar passar impune a "barbaridade denunciada que alertava para a possibilidade de em Portugal ser praticada a mutilação genital sobre a
popula "mulher de origem africana".
Para um país como Portugal, onde pouco se faz pelos direitos da mulher, relembramos que estamos em 2009, e por todo o mundo milhares de mulheres são violentadas, apedrejadas, queimadas e
excisadas, retirando-lhes o único e raro proveito físico que podem ter enquanto mulheres. Até quando se receberão rosas a oito de Março, para ocultar as lágrimas e as nódoas negras?!"